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14/04/2025 12:40
Mais do que cumprir a cota: Senac promove evento sobre programas corporativos de inclusão de PCDs
Cases da Clamed, hospital Dona Helena e Porto de Itapoá levantam questões de equidade e necessidade de desenvolvimento de nova cultura
Na última sexta-feira, 11/04, em Joinville, o Senac recebeu profissionais de diversas empresas de Joinville e região, em sua maioria de Recursos Humanos, além de alunos, professores e representantes de movimentos sociais, para um colóquio sobre o programa de treinamento para inclusão de PCDs desenvolvido na unidade.
O programa surgiu organicamente da demanda das empresas e é realizado em parceria com a empresa de consultoria em projetos de responsabilidade corporativa e desenvolvimento humano, Armonia. O evento trouxe os cases ‘Pertenser’, do grupo Clamed; ‘Entre Laços’, do Hospital Dona Helena e ‘Porto para Todos’, do Porto Itapoá. Todas as falas giraram em torno da importância da atuação empresarial para além do cumprimento de cotas.
“A Lei brasileira trabalha com o princípio da equidade. Precisávamos pensar em algo diferente.”, conta Luzia Longo, da empresa Armonia, que apresentou a evolução da legislação sobre o tema desde a Lei de Cotas até as demandas da Lei Brasileira de Inclusão (LBI), de 2015.
Alexandre Velho, que teve sua perna amputada depois de um acidente de moto, contou sua experiência: “Quando eu mandava o currículo sem o escrito ‘pcd’, eu era chamado e dispensado. Quando mandava com o ‘pcd’, era chamado apenas para aquelas vagas de ‘assessor de quase nada’. Só conseguia como assistente ou auxiliar.”
Ele relatou que deixou de se sentir invisível quando participou do programa “Talentos da diversidade”, da Embraco. “Foi o primeiro momento que alguém me notava de volta. Antes era ‘nome, pcd, e paravam na segunda linha. O resto não importava, só era visto por isso. Agora, imagina uma criança que a vida inteira vem acreditando que é só isso mesmo, que é reduzida a isso.”
Luzia completou com algumas dicas para o desenvolvimento da cultura de inclusão: “A gente aprende a não ser apenas cumpridor de cotas olhando para as pessoas individualmente, perguntado o que elas precisam. Mas antes disso, seguindo o método, em uma entrevista, por exemplo, a gente pergunta por último sobre a deficiência. Primeiro tem que saber do potencial.”
Aprendizado com população pcd permeia todas as falas do evento
Dentre o público atendido pelos programas apresentados estão pessoas de diferentes idades, estrangeiros, usuários de cadeira de rodas e andador, pessoas surdas não oralizadas e sem conhecimento de Libras e pessoas com TEA. Segundo a coordenadora do projeto no Senac Joinville, Graziella Dall’Inha, o treinamento trabalha questões de identidade pessoal, autonomia, comunicação, integração, relacionamento, direitos e deveres e empregabilidade. Uma das ações recomendadas é a formação de padrinhos para o suporte direto ao colaborador no ambiente de trabalho. Todos os programas são pensados através das particularidades de cada empresa, mas têm em comum fomentar uma cultura de inclusão e são voltados para atender aos interesses da pessoa, da instituição e da comunidade onde elas estão inseridas.
Wilkellen Karoline Narciso, analista de atração e seleção do grupo Clamed, fala da necessidade de ouvir as pessoas para aprender: “O programa começou do questionamento sobre parar de ‘achar’ que as pessoas se sentem bem. O ‘Aprender para incluir’ vem do momento de aprender com essas pessoas para trazer para a alta gestão. Tudo bem o outro de fora querer saber, mas que ele possa ouvir mais do que falar porque não é o seu lugar de fala.” Além das adaptações físicas para o acolhimento, a empresa também promove ações para o relacionamento: “Todas as pessoas que estão em um setor com alguém que precisa de Libras precisam fazer o curso.”
No Hospital dona Helena a segunda turma vai começar em maio. O gerente de gestão de pessoas Diego Monteiro chamou atenção para o foco nas habilidades e potenciais ante as barreiras de julgamento que requerem mudança de atitude: “Muitas vezes é comum a gente utilizar os nossos valores pessoais para criar um senso do que é possível ou não.”
No projeto do Porto de Itapoá, a analista de recrutamento e seleção Joseani Fontanella contou que, no trabalho de atração de pessoas, lidaram com questões de insegurança de jovens com receio de ingressar no mercado. “Tivemos que pensar em muitas situações que não esperávamos. Surgiu uma demanda, por exemplo, de educação financeira. Nessa primeira inclusão, muitos tinham dificuldade de lidar com o dinheiro porque muita gente não tinha acesso ao dinheiro até então.” A empresa montou sua primeira turma de libras com 30 participantes, e Joseani comemora: “Fomos estratégicos nas áreas onde tinham pessoas surdas, e já tem lista de espera.”
Nas perguntas ao final do evento, a professora do atendimento de educação especializado do estado, Adriana Voigt, levantou a demanda de programas de estágio para inclusão dos jovens. Vânia Schimerski, vice-presidente do Conselho municipal de PCD e mãe de um jovem com autismo, falou da experiência na busca por inclusão: “No mercado de trabalho, meu filho é maravilhoso para ser voluntário, mas não para trabalhar como não voluntário.” Para Alexandre Velho, muito se caminhou sobre o tema, mas ainda há muito para evoluir: “Cargo de gestão, por exemplo, ainda não chega, ainda está faltando um pouco, mas a partir de iniciativas como essas a gente abre portas.”