Rogério disse que sofreu audismo. Mas, o que isso significa?
Camila Braga, que atua como analista de educação inclusiva no Senac EAD,
explica que o audismo é um conceito repudiado pela comunidade surda, por trazer
apenas um olhar clínico sobre a pessoa surda. "É um conceito que não considera
as pessoas surdas em sua plenitude, desmerecendo a cultura surda e o uso da Libras (Língua Brasileira de Sinais), prejudica a acessibilidade e não
considera a individualidade da pessoa surda”.
O ‘olhar’ da pessoa que avaliou Rogério durante o processo seletivo para um emprego traz luz a apenas um cenário da sociedade. Há inúmeras situações em que a comunicação falha pela falta de acessibilidade em ambientes, produtos e serviços na cidade. "No cinema, por exemplo, são poucos os filmes brasileiros com legenda. Isso dificulta a participação do surdo à cultura. Outra situação da qual me lembro: uma vez, meu carro quebrou em Rio Grande do Sul e não tinha como ligar para o guincho. Então, mandei mensagem para meu pai, que ligou para o guincho e resolvemos o problema. Se as pessoas se interessassem mais pela Língua Brasileira de Sinais, poderiam criar mais aplicativos e estratégias para facilitar nossos processos. E o mais importante: a escola, muito já se fez, com a escola bilíngue, porém ainda há muito a se fazer, para que a inclusão ocorra”.
Na opinião da Camila, as escolas ainda encontram muitas dificuldades em compreender a necessidade de realizar estratégias diferenciadas para a alfabetização dos alunos ouvintes e surdos. "Em relação ao intérprete de Libras, também podem existir dúvidas sobre sua atuação. Nesse sentido, é fundamental que o planejamento de aulas e atividades escolares contem com o intérprete, favorecendo seu trabalho em sala de aula e aprimorando o atendimento ao aluno. A escola deve reconhecer a riqueza humana potencializada pela diversidade, favorecendo o aprendizado dos alunos e profissionais da escola, em Libras”.
5 motivos para aprender a se comunicar em Libras:
- Aprender uma nova língua e suas características visual e espacial (expressões faciais, configuração de mão, movimento do corpo, entre outras);
- Conhecer a cultura surda e suas especificidades;
- Aprimoramento profissional;
- Ampliação das interações sociais, tendo possibilidade de se comunicar com pessoas surdas por meio da Libras;
- Possibilidade de repassar conhecimentos adquiridos para outras pessoas, ampliando a inclusão e respeito à diversidade humana.
Para Camila, a visão de mundo proporcionada pela perspectiva da inclusão possibilita o entendimento de que cada indivíduo é semelhante em direitos. "Devemos conviver socialmente reconhecendo que cada um contribui e enriquece a experiência do outro quando trocas são favorecidas”, declara a analista.
Língua Brasileira de Sinais
Foi em 2002, por meio da sanção da Lei n° 10.436, que a Língua Brasileira de Sinais teve seu reconhecimento como meio legal de comunicação e expressão no país.
Libras atinge a maioridade em poucos meses, mas, ainda enfrenta o desafio de ser o canal de comunicação entre a parcela da população brasileira composta por surdos e toda a sociedade de não surdos.
Curiosidade
No Brasil, os surdos só começaram a ter acesso à educação no governo de Dom Pedro II, quando Eduard Huet, francês que ficou surdo aos 12 anos ao contrair sarampo, apresentou ao imperador um relatório no qual apresentava a intenção de criar uma escola para surdos no Brasil. Em 1856, começou a funcionar, no Rio de Janeiro, com o nome de Collégio Nacional para Surdos-Mudos, que desde 1957 é o Instituto Nacional de Educação de Surdos.
*Produzido com informações do portal Senac EAD